Ex-editor executivo da Harvard Business Review, escritor e jornalista especializado em tecnologia e seu impacto na cultura e nos negócios, Nicholas Carr apresenta em The shallows uma teoria provocante: a internet está transformando os seres humanos em criaturas superficiais, incapazes de ter pensamentos profundos e criativos. Carr mergulha na neurociência, filosofia, história e grande variedade de experimentos científicos para rastrear indícios que apoiem sua hipótese. Embora reconheça que algumas habilidades humanas têm melhorado com o uso do computador, salienta que não foram a memória, o vocabulário ou a cultura geral, as condições básicas de um pensamento superior. “A internet gera o tipo de estímulo cognitivo (repetitivo, intenso, interativo e viciante), que resulta em profundas e rápidas alterações dos circuitos e funções do cérebro”, escreve Carr. Para a reflexão e o aprendizado é necessário tempo, diz, e com a internet não há maneira de parar para pensar.

Os críticos de Carr dizem que sua teoria é lúcida, mas um pouco tendenciosa e até algo conservadora. The New York Times comparou seus postulados com a desconfiança de Sócrates em relação à invenção do livro, que “traria o esquecimento à alma”. Para o ateniense, a palavra escrita arruinaria a mente.

Conhecido crítico da revolução tecnológica, Carr, em 2008, escreveu um comentado artigo na revista The Atlantic em que se perguntava se o Google estava tornando a raça humana estúpida. The shallows retoma o argumento e afirma que nossa memória dorme enquanto os motores de busca trabalham. “A memória biológica está em estado perpétuo de renovação; cada vez que a exercitamos, mudamos e recontextualizamos o conhecimento. A mente biológica forja a criatividade. A do silício (Google) a anestesia. Carr propõe substituir o título de “sociedade da informação” por “sociedade da interrupção”.